vox populi

segunda-feira, 29 de outubro de 2007




Seguindo o coelho branco

NOTA. Este é o maior post que já fiz para o Vox Populi, e talvez seja o único deste tamanho. Tentei organizar as infomações do modo mais dinâmico possível, para que a leitura não se tornasse cansativa. Há muitas idéias contidadas nesse post, todas elas devidamente explicadas e organizadas segundo o assunto do qual tratam. Caso haja alguma dúvida acerca dessa teoria sobre a sociedade e o mercado, os comentários estão aí. Boa leitura!

"A Matrix pegou você". Isso quer dizer, em plavras enigmáticas, que há uma ligação real entre o seu ser e uma super-estrutura que coordena aquilo que você é (ou aparenta). Em nosso Universo, ao que tudo indica, não existe uma Matrix que possa ser compreendida como a do filme de mesmo nome. Aparentemente.

Mercado¹ é uma das palavras de que menos gosto. Sozinha, não tem significado algum para mim, nem transmite a complexidade e o alcance daquilo que significa. Sou a favor de, em português, o mercado passar a se chamar "matriz". Tenho algumas justificativas para apresentar aos gramáticos e puristas da linguagem, caso algum deles crie caso:
ARGUMENTO 1. Seria muito mais interessante ver, ouvir e ler notícias como "A matriz está em recessão" ou "A matriz reagiu ao recente aumento do preço dos barris de petróleo".

ARGUMENTO 2. O mercado, como a Matrix cinematográfica, "está em toda parte". Na verdade, ele é a nossa Matrix (então, sim, ela existe neste Universo). Tenho mais justificativas a favor do Argumento 2. Vejamo-nas:

A) O mercado faz parte d'O Sistema², é um dos mecanismos utilizados nele para
"facilitar" nossas vidas. Teoricamente o Sistema rege nossa Matrix, mas quem é
realmente responsável por ela, por sua existência e manutenção, é a sociedade. Se a sociedade faz o mercado, onde ela está presente, ele também pode ir.

B) Toda a PES (política, economia e sociedade) depende do mercado, atualmente, para existir. O capitalismo, por exemplo, nada mais é que um dos mecanismos do
mercado, sua organização sobre uma base monetária.

C) "O capital é o único monarca"³ da humanidade. Um monarca, teoricamente, tem poder sobre todo o seu reino. Logo, está em todos os lugares. Se o capital serve ao mercado, temos aí nossa justificativa para sua onipresença.

ARGUMENTO 3. Estamos plugados à matriz-mercado e somos dependentes dela a tal ponto que toda a nossa vida depende de sua existência e daquilo que ela provê: nosso sustento, nossa satisfação pessoal, etc. Assim também se encontravam os seres-humanos que, na trilogia Matrix, estavam conectados à simulação homônima.
São esses os meus argumentos para minha proposta de troca do termo mercado. É inegavelmente verdade que permitimos que o mercado nos governe, seja nosso monarca, dite as regras de nossa existência. Por quê? Essa é uma questão essencialmente psicológica. Minha resposta para ela é simplória e, talvez, até mesmo insatisfatória, mas arrisco-me, mesmo assim, a responder:
"A exemplo de uma máquina comum (um eletrodoméstico, talvez), precisamos de dois tipos de energia para operarmos. A máquina necessita de força mecânica, elétrica, térmica, etc., e também da nossa, de nossas ordens ou programações. Já nós necessitamos da 'energia biológica' e da programação inerente à nossa própria espécie. Só que, assim como as máquinas (ainda) não podem se auto-programar de modo funcional, também nós não podemos".
Quê?! Esse é o ponto. Simplesmente não conseguimos nos isolar do meio para que possamos escrever nosso próprio Programa_de_Vida.exe. Ao longo do tempo, apenas fomos condicionados a aceitar as diretrizes d'O Sistema como nossas próprias. Nos tornamos prolongamentos de uma realidade virtual (pois todo Sistema é baseado em um conjunto de leis e regras globais não-naturais, criadas para manter a ordem social. Nota: não se questiona aqui a importância dessas regras). O Sistema, imaterial, se manifesta através de nós, nossa mente e corpo. Somos suas mãos - suas únicas mãos.

Em nós, ele se manifesta, primariamente, na necessidade compreensível e necessária de nos organizarmos em grupos sociais. Não, o Sistema não é um erro ou aberração em sua essência. O problema reside em sua manifestação secundária: através daqueles que nele vivem e são alimentados pelas suas diretrizes (muitas vezes, aparentemente apenas por essas). O que deveria ser um modo dinâmico de interação social tornou-se, quem sabe, o vírus-mor da humanidade. Estou falando do mercado.

Das interações sociais foi que surgiu o mercado, que adaptou o Sistema, pré-existente, a si, e não o contrário. Leia-se "a economia engoliu a sociedade". O que você acredita que isso ocasionou? Exato: a desvinculação d'O Sistema de suas bases sociais originais, a sobrepujança (cruzes) do valor econômico sobre o valor social. Bingo! Você acabou de encontrar a origem de todos os males, a soma de todos os medos, a sombra e a escuridão, a queda e todos os outros nomes de filmes que remetem não ao capitalismo, mas, sim, ao capitalogos, à doutrina do capital que se sobrepôs à razão, à lógica social.

Gosto de chamar o mercado de matriz pois, além dos três motivos anteriormente apresentados, como a Matrix do cinema, ele se superpõe à realidade. Vivemos, hoje, em um mundo ideal, fechados na redoma em que o mercado nos prendeu (logicamente, para se expandir às custas de nosso exacerbado consumo). Somos como os prisioneiros da caverna de Platão.

Mas, então, o que é real?

Realidade é isto:

Esses são exemplos de seres-humanos que vivem à margem ou fora do mercado, da nossa matriz. Não porque querem, mas sim pois uma série de fatores conduziu-os a essa realidade. São os desplugados, ou exilados.

Pergunto: aonde você quer estar, jundo dos exilados ou dentro da matriz? Como eu, creio que você não gostaria de se desplugar, não adianta fugir dessa verdade. Para quê? Para passar fome, viver em mínimas condições de sobrevivência? E o pior: sem nenhuma perspectiva de mudança de vida para você e os demais desplugados.

Algo que devemos ter é mente é que os missionários, as ONGs e todos aqueles que, com ideais filantrópicos, saem em auxílio desses exilados, são, na verdade, em sua esmagadora maioria, agentes da matriz. Buscam incluir, mesmo que com bons propósitos, os exilados no mercado. Realmente, ele está em toda a parte.

Onde está o erro na caridade? Não está, pois não existe. Platonicamente, a idéia caridade é perfeita. A versão 3.0 (e posteriores) da matriz-mercado foi que a arruinou.

Ir até onde há miséria e sofrimento praticar caridade é perfeitamente compreensível e necessário. A falha do ato reside em como ele é praticado, em seus, chamemos assim, ideais ocultos. Veja:
QUESTÃO. Por quê (re)incluir os desplugados no mercado?

( ) A) Para que eles melhorem suas condições de vida;
( ) B) Para que se integrem à sociedade global;
( ) C) Para que acompanhem o desenvolvimento do restante do globo;
( ) D) Para que sirvam de mão-de-obra ou corpo-de-consumo a ele.

RESPOSTA: Aos olhos dos filantropos, as alternativas A, B e C estão todas corretas, pois esses são, muitas vezes, o objetivo dos mesmos. Já para aqueles que se permitem enxergar o mercado como uma equação que engloba todas as outras equações (a política, a sociedade, etc.), a alternativa correta (considerando-se apenas os objetivos do mercado) é a de letra D.
Esse ideal de garantir "carne fresca" à nossa Matrix não pode ser tido como pertencente aos capitalistas, industriais, banqueiros ou outras classes sociais abastadas. Essa é uma idéia característica de todos nós, consciente ou subconscientemente.

Cegamente acreditamos no mercado e o vemos como solução única para todo e qualquer tipo de mazela social, afinal de contas, se funciona para nós, há de funcionar para os exilados também! Mas quem disse que funciona para nós? Para mim, algo funcional deve, necessariamente:
  1. Atender a todas as necessidades daquilo que suporta;
  2. Ser acessível a tudo aquilo que suporta;
  3. Uma vez proposto como solução a uma questão qualquer, deve fornecer a solução necessária.
Se esse determinado algo não está de acordo com essas três regras é porquê não funciona e deve ser substituído por uma alternativa eficiente o mais rapidamente possível. O fato é que o mercado simplesmente não atende a essas regras: não abrange a totalidade das sociedades em que está presente para que lhe seja oferecida a possibilidade de sobrevivência e evolução; nem todos os seres-humanos possuem acesso a ele se não seguirem o modus vivendi por ele imposto; não soluciona a questão da troca de bens, muitas vezes sofrendo convulsões provocadas não por alterações em suas leis mais básicas, mas sim por informações e suposições falhas.

Então, que fazer? Obviamente, a meu ver, a matriz-mercado deve ser desligada, todos devemos nos desconectar da influência arrasadora do capital, do marketing, das sociedades de consumo. Viveremos sem um sistema econômico, então? Não. Ninguém deve tirar os méritos da economia, responsável por diversos avanços políticos, sociais, econômicos e ambientais promovidos e sofridos por nossa espécie.

Então, novamente, temos a pergunta: que fazer? Siga o coelho branco da liberdade, expanda sua mente. Saia da matriz. Exato, seja um desplugado, um exilado! Se há alguns parágrafos atrás afirmei que tornar-se um desplugado não colabora em nada para a melhoria da condição dos mesmos e de nós próprios, agora, após discutirmos mais profundamente o mercado, podemos concluir que só o compreendemos quando nos permitimos ver "de fora" aquilo que ele é. Há de concordar que se torna mais fácil subjugar aquilo que conhecemos.

Sair da matriz não significa abandonar sua cidade ou país e passar a levar uma vida errante, mas sim ter consciência dela e, na medida do possível (ou sempre), evitá-la, combatê-la, mesmo que seja de modo silencioso e isolado. E também unir-se aos outros desplugados, formando uma verdadeira Resistência à matriz.

Esse será o início da possível revolução 5.0 do mercado-matriz, em que ele será substituído por um novo tipo de relação econômica, que será guiada não pela preocupação com o capital, mas sim com o social. A moeda servirá à sociedade, não o contrário, e será valorizada conforme a condição de vida, o índice de desenvolvimento, das sociedades também se valorizar.

Chamo essa idéia de Teoria Sócio-econômica do Valor Social, ou NEO (Nova Economia Organizada), para os mais íntimos. Alguns insistem em chamar de socialismo. Não é, pois ela funciona como adendo ao sistema político, não como substituta desse.

Com a finalização da matriz e a adoção dessa nova idéia, haverá uma restauração d'O Sistema a, praticamente, sua forma original. É um processo de teoria complexa, mas de fácil execução. A única dificuldade é convencer as pessoas de que o atual mercado é ruim para a humanidade com um todo. Difícil, mas não impossível, nunca impossível.

Permita-se, hoje, ver até onde vai a toca do coelho. Tome a pílula vermelha.


"O mundo é mais do que parece"
Lema do Blog Vox Populi


VEJA AQUI AS DIFERENTES VERSÕES D'O SISTEMA



¹ Economia - Conjunto de atividades de compra e venda de determinado bem ou serviço, em certa região. [Fonte: Dicionário Aurélio Eletrônico - Século XXI]

² "O Sistema", abordado mais uma vez neste artigo, é considerando como sendo a conjuntura política, econômica e social histórica e atual das sociedades humanas.

³ Cf. Thomas Füller (1608-1661), escritor inglês.


Tema: Mercado

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Anônimo - 13:33

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